Coisas declamadas
Acabei de matar a Esperança com uma caneta,
Ficou na mesa entre dois versos, a sangrar sonhos e ilusões.
Abri o armário onde guardo a lucidez, a racionalidade e uma mala enorme.
Preciso de uma mala grande onde caibam todos os sonhos que a Esperança criou,
E que agora escorrem da mesa e me sujam o chão e me sujam a casa,
Inúteis.
Mortos.
Vazios.
Arrasto-me e arrasto pelas ruas uma mala tão cheia e tão pesada que quase me derruba.
Sem sonhos e sem Esperança não fiquei mais leve como eu queria,
Fiquei mais densa!
Abandono a mala bem longe das quatro paredes onde guardo o corpo,
Onde acalentava a Esperança,
Onde acumulava sonhos bem maiores do que eu.
Sempre sonhei muito mais do que devia,
Mais do que podia.
Sempre naveguei entre duas margens,
A real e a que eu queria.
Fui barqueira de sonhos num rio de fantasia sem marés e sem correntes,
Mas do meu rio nunca encontrei quer a nascente quer a foz.
E ficou rio de sonhos parado,
Mar estagnado,
Fantasia do meu olhar.
Hoje, lúcida, olho-me de frente,
Olho esta pequenez de ser só gente,
Morta a Esperança
Vazia de sonhos
Perdidas as ilusões.
Seco os olhos e o rio parado que tinha no olhar,
E fica a paisagem lisa de margens
Um só caminho,
Que sigo lúcida e densa
Calando mágoas e agonia.
Desconheço autor