Coisas lidas e finadas.... ou findadas?
(...)
Imagem da perfeição, do meu deslumbramento, onde estás? Vem suave ao meu apelo, á minha necessidade e cansaço. Não sei como és ou que luz te ilumina ao meu imaginar.Mas sei de mim, do acabrunhamento que me afunda, que deves existir pelo que em mim te chama e te exige. Tudo em mim está pronto para que me apareças, te formes como um universo que vai existir, um sorriso breve se me abre a idéia de que virás. Desastre do meu ser, corrupção da minha finitude, sombra evanescente do que falhou e morreu, aí se destende o espaço para a tua aparição. Não sei nada de ti nem a forma que tomarás para a minha pacificação. Sei apenas que há em mim uma falta muito grande que alguma coisa deve preencher. Sei apenas que em algum lado há-de existir, o que me tranqüilize e me ponha devagar a mão sobre a fronte. Sei apenas que a paz e a beleza e a graça devem existir para a minha melancolia que as exige. Graciosidade gentil um olhar suave que me fite qualquer coisa de terno e pacificador que desça sobre mim e me cubra e me envolva e me sagre de doçura e de apaziguamento em que tudo me esqueça e repouse e esteja bem...
oprincipal, deixou um comentário ao post
Eu continuo com o Vergilio... "Dostoievski escreveu: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido». Aí se situa o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe , fica o homem, por conseguinte , abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no entanto livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer. O existencialista não crê na força da paixão. Não pensará nunca que uma bela paixão é uma torrente devastadora que conduz fatalmente o homem a certos actos e que por conseguinte, tal paixão é uma desculpa. Pensa, sim, que o homem é responsável por essa sua paixão. O existencialista não pensará também que o homem pode encontrar auxílio num sinal dado sobre a terra, e que o há-de orientar; porque pensa que o homem decifra ele mesmo esse sinal como lhe aprouver. Pensa portanto que o homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a cada instante a inventar o homem. Disse Ponge num belo artigo: «O homem é o futuro do homem.» É perfeitamente exacto. Somente, se se entende por isso que tal futuro está inscrito no céu, que Deus o vê, nesse caso é um erro, até porque nem isso seria um futuro. Mas se se entender por isso que, seja qual for o homem, tem um futuro virgem que o espera, então essa frase está certa." Vergílio Ferreira, in 'O Existencialismo é um Humanismo'