SABE-SE LÁ O AMOR II(In Quase gosto da vida que tenho Pedro Paixão)
Coisas lidas
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Ele será condenado por rapto. Ela voltará para casa dos pais. Disso há que ter a certeza. Ele é responsável, um soldado, um homem feito de trinta e sete anos de violência. As televisões não falam de outra coisa, transformaram o amor em violação. Começou a caça ao homem! A rapariga é uma presa indefesa nas garras da inconsciência.
Entretanto o homem e a rapariga amam-se em desespero num quarto fechado, num qualquer hotel barato. Têm medo de sair á rua, do olhar dos outros. Sabem que estão a ser perseguidos, que já foram condenados antes de poderem dizer o que quer que fosse, se para tal encontrassem palavras. Transportam consigo o segredo da poesia. São demasiado vulneráveis. Um olhar basta para os destruir. O homem e a rapariga continuam sentados face a face, amando-se loucamente, sem se tocarem. Acreditam no amor, na frágil flor azul. Estão enlouquecidos. Mesmo antes de se terem encontrado, alma diante da alma, nas redes electrónicas em que o amor atinge a estonteante velocidade da luz. Estão loucos por amor sentados nas camas estreitas, separados por um pequeno intervalo, no quarto fechado do hotel barato. Não comem nada, bebem um pouco de água. Vão ficar assim imóveis até a policia os encontrar.