O último voo do flamingo Mia Couto XVII
Coisas Lidas
Quando chegou minha esposa eu tive que mentir. Não podia revelar com quem estava na altura do acontecimento. Me incriminando todavia: os copos de wisqui. Dona Ermelinda, a minha esposa, foi de imediato ao assunto:
- Estes são dois copos
- Sim, eu estava bebendo com o major Ahmed
- Quem é Ahmed?
- Era. Era esse que esvoaçou. Chefe da segurança.
- E esse chefe de segurança, esse major, usava batôn?
Engoli um sei lá. Quem sabe os costumes desses asiáticos. Não há por ai uns que andam de saia? Sabe-se lá o que usam dentro da roupa. E apontei para o tecto. Era melhor que ela visse o órgão do militar para desvanecer suspeitas. Só depois senti embaraço de confessar que o instrumento de macho estava espetado, digamos que de cabeça para baixo, no tecto da minha casa. Enganava a Ermelinda. Mas, os outros que iriam pensar? Que eu estava envolvido nas famigeradas rebentações? Ou pior, que andava por aí a tomatear-me com homens, ainda por cima acastanhados?