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Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

31
Mar10

A Mentira Está em Ti

AnnaTree

 

 

"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"

"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"

"Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."

"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema X"
Heterónimo de Fernando Pessoa

26
Mar10

“A VALSA”

AnnaTree
 

Coisas Mailadas

(enviado pelo Pai)

Tu, ontem,

Na dança

Que cansa,

Voavas

Co'as faces

Em rosas

Formosas

De vivo,

Lascivo

Carmim;

Na valsa

Tão falsa,

Corrias,

Fugias,

Ardente,

Contente,

Tranqüila,

Serena,

Sem pena

De mim

Quem dera 

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas...

— Eu vi!...

Valsavas: 

— Teus belos

Cabelos,

Já soltos,

Revoltos, 

Saltavam,

Voavam,

Brincavam

No colo

Que é meu;

E os olhos

Escuros

Tão puros,

Os olhos

Perjuros

Volvias,

Tremias,

Sorrias,

P'ra outro

Não eu!

Quem dera 

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas...

— Eu vi!...

Meu Deus!

Eras bela

Donzela,

Valsando,

Sorrindo,

Fugindo,

Qual silfo

Risonho

Que em sonho

Nos vem!

Mas esse

Sorriso

Tão liso

Que tinhas

Nos lábios

De rosa,

Formosa,

Tu davas,

Mandavas

A quem ?!

Quem dera

Que sintas

As dores

De arnores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas,..

— Eu vi!...

Calado,

Sózinho,

Mesquinho,

Em zelos

Ardendo,

Eu vi-te

Correndo

Tão falsa

Na valsa

Veloz!

Eu triste

Vi tudo!

Mas mudo

Não tive

Nas galas

Das salas,

Nem falas,

Nem cantos,

Nem prantos,

Nem voz!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera 

Que sintas!...

— Não negues

Não mintas...

— Eu vi!

Na valsa

Cansaste;

Ficaste

Prostrada,

Turbada!

Pensavas,

Cismavas,

E estavas

Tão pálida

Então;

Qual pálida

Rosa

Mimosa

No vale

Do vento

Cruento

Batida,

Caída

Sem vida.

No chão!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas...

Eu vi!

CASIMIRO DE ABREU

24
Mar10

A trança de Inês II de rosa Lobato faria lido 2005

AnnaTree

 

 

Coisas Lidas

 

Aquela casa não é habitada por ninguém, não é mobilada por uma presença, uma alma, um fantasma, sequer. É, isso sim, habitada por uma ausência, que escorre das paredes como uma humidade gelada e a enche de um silencio que nenhum som no máximo, nenhuma televisão aos berros conseguem disfarçar. As refeições idiotas que como na mesa exígua da cozinha sabem-me a solidão, ás vezes a neurastenia, outras a desespero. O duche tem o murmúrio de um regato perdido que não desaguasse em nenhum rio, o sono é uma corrida para o outro lado da noite, sem sonhos, sem anjos, sem estrelas.

22
Mar10

A trança de Inês de rosa Lobato faria lido 2005

AnnaTree

 

Coisas Lidas

 

«Um não sei quê que nasce não sei onde
Vem não sei como e dói não sei porquê»
Luís Camões
(...)
Houve sempre um princípio, embora parecesse que tudo principiará muito antes, num mundo ainda por acontecer, quando o tempo ainda dormia, ou era tão vagaroso como o feto de um outro tempo por nascer.
(...)
Na infância o tempo não passa, na adolescência demora-se, na idade adulta corre, na velhice precipita – se
(...)
Quem me chama, quem me acorda, quem espera de mim alguma coisa que não seja naufrágio, desistência e um vomito salgado do tamanho do mar.

19
Mar10

Thousand-Hand Guan Yin

AnnaTree

As long as you are kind and there is love in your heart
A thousand hands will naturally come to your aid
As long as you are kind and there is love in your heart
You will reach out with a thousand hands to help others
 


 

 

18
Mar10

NATUREZA MORTA; FOGO DE ARTIFICIO; DIALOGO AO ENTARDECER

AnnaTree

Coisas Lidas


NATUREZA MORTA
Começou por recuperar á sua maneira, temas clássicos: três pêras e um violino; cachos de uvas junto a livros antigos, daqueles com paginas repletas de símbolos alquímicos; cestos de figos, copos de cristal, flores murchas, um elmo. Depois, aos poucos, foi introduzindo elementos bizarros, combinações grotescas: um cão morto de olhos cosidos, sobre a carcaça de um automóvel, dois pneus a arder dentro de um armário forrado de espelhos; lírios brancos flutuando numa banheira de esmalte cheia de sangue. Passou a viver no atelier, tecendo lentamente a sua loucura. Perdeu os laços com a família, com os amigos, com as galerias. Quando o prenderam, acusado de homicídio na pessoa do amante e modelo, trabalhava na sua «obra-prima».
Quadro gigantesco – seis por cinco metros – inteiramente preenchido pela cabeça degolada do S. João Baptista.

FOGO DE ARTIFICIO

Ele gostava de coincidências. Ela também. Ele acreditava que quando encontrasse a mulher da sua vida, haveria um sinal. Numa noite de festa popular, chocaram um com o outro, perdidos no meio da confusão. Olharam-se nos olhos e pensaram, ao mesmo tempo:
«Nem é preciso haver sinal». Foi nesse instante, nesse preciso instante, que as luzes explodiram no céu.

DIALOGO AO ENTARDECER

Estas a ver aquele bando de estorninhos, ali ao fundo, sobre o Coliseu?
- Sim, sim, coisa espantosa, parece um pássaro feito de pássaros – repara agora, olha bem, a mancha negra a mover-se sobre os telhados de Roma. Primeiro afasta-se, depois aproxima-se, cria formas para logo as desfazer, é como um cardume a voar nas águas do céu. - Pois é, tens razão. Nunca vi nada assim. É um prodígio da natureza. - Lembras-te daquela conversa que tivemos em Florença, na margem do Arno? - Sobre a felicidade? - Sim, sobre a felicidade. - Lembro-me muito bem. Disseste que a felicidade não existe, é uma miragem. Só vale a pena pensar nela se soubermos que nunca a alcançaremos. - Talvez tivesse razão quando disse isso, sabes. Mas agora peço que o esqueças. A felicidade é aquele bando de estorninhos aqueles pássaros abrindo as asas sobre Roma. A felicidade é este crepúsculo, com as suas nuvens douradas e vermelhas, este crepúsculo que nunca mais se repetirá

TITANIC

Quando a noite chegou, com a lua brilhante a subir no horizonte tão escuro, ela tirou do baú os sapatos brancos, algumas jóias. O melhor vestido. Caminhou até ao salão, toda veludo e pérolas. A meio do baile, disse-lhe baixinho ao ouvido: «estou grávida». Ele empalideceu, de repente os vidros embaciaram-se, a orquestra atacou uma última valsa. Já no convés, ela decifrou em cada gesto dele, mais do que nas palavras, os sinais claros da decepção. Compreendeu tudo. O olhar que a seduzira numa rua de Viena – há quantos séculos? - Era agora de uma frieza que só se encontra no coração azul do gelo.

FIM

O escritor – não sabia como concluir as suas histórias. Por isso, numa noite de álcool, insónia e lucidez, decidiu nunca mais correr o riscou pérfido, vicioso – de as começar.

João Mário Silva DNA 2002

Pág. 1/3

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