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Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

30
Jun10

AS MADRUGADAS DE LINDA LÊ LIDO VIII

AnnaTree

Coisas lidas

 

Deixa-me, Vega, dizer-te a imensidão da minha ternura. Ela não surge por acaso. Ela foi extorquida á morte, ela jorra deste coração que acreditava ter enterrado qualquer sentimento, ela subverte a ordem de uma existência que se refugiara no torpor como a única salvação ao seu alcance. Deixa-me, Vega, cantar o amor que nos une. Amor tranquilo como águas adormecidas onde fadas e elfos se olham fazendo a roda. Amor perverso de irmão e irmã que estremecem de uma volúpia maldita. Amor sagrado que nenhuma mesquinharia conspurca, que nenhuma rotina enferruja. Amor absoluto, semelhante a um sonho de Deus. Imagino-nos a envelhecer juntos, inseparáveis como a faca eu o cabo, como as duas faces de um espelho, como irmãos siameses que não podem ser separados sem que, ao mesmo tempo, lhes seja retirada a vida. Queria que abandonasses tudo e viesses habitar o meu refúgio. Serei o teu servo, tu dar-me-ás o fogo que te anima, alimentar-me-ás do mistério que te torna única. Parte, Vega, rompe com o que não somos nós e vem a mim, pois que o domínio que exerces sobre os meus dias é poderoso. Ele dissipou as angústias, calou o monstro que rasgava as minhas entranhas e ordenava aos meus sentidos que ficassem de luto. Afastou dos meus lábios o cálice envenenado do azedume, suavizou a aflição que me causava a lembrança de Forever. Aceito, finalmente, a ideia da sua morte. Já não encaro o projecto de a reencontrar como a única possibilidade de adormecer os meus tormentos. Vejo nela e em ti a mesma mulher, regressada através dos tempos. Ambas estão feridas e exibem a ferida nas suas túnicas sem emitir um grito. Ambas, iniciadas no segredo ultimo da vida e da morte, foram colocadas no meu caminho para me apontarem a via menos comum : as almas solitárias, sequiosas de um outro ar que não este, viciado, das ambições humanas, fazem o seu caminho por atalhos. Devo-vos, a ti, a minha alegria, e a ela, a minha dor, os únicos momentos de felicidade e elevação que a minha existência conheceu. Vega, minha estrela polar, tão próximo e tão longe, amo-te de um amor que somente se mede pela bitola do infinito. Contigo queria envelhecer, terminar uma obra, pois eu sonho, Vega, sonho com um livro de que te darei todos os dias fragmentos que tu lançaras no papel. Sonho com um livro onde murmurem fantasmas, um livro hino á gloria de Forever, a muito santa, uma declaração de amor louco feita a ti, a conjurada que urdiu a minha felicidade. Sonho com um livro de luto e renascimento, de morte e sensualidade, um livro que me salvaria de mim, aquele a quem o pensamento do suicídio sempre acompanhou.

 

28
Jun10

AS MADRUGADAS DE LINDA LÊ LIDO VII

AnnaTree

coisas lidas

(...)

Transmitiste á tua leitura uma nota elegíaca, sem cair na lamuria. A tua voz dava a cada verso uma energia nova e o poema redobrava de mistério. A não ser Forever, nunca me tinha aproximado de ninguém para quem as palavras fossem um reino. Nunca tinha estado tão perto de uma mulher que conhecesse o valor do que me era querido, acompanhando-me nas delícias dos alimentos espirituais como num manjar clandestino. O meu coração palpitava com esta descoberta. Seria possível que a existência me oferecesse, no momento em que julgava tudo perdido, uma consolação? Eu abdicara , renunciara ao amor e o destino conduzia até mim alguém intimo e desconhecido. Via já em ti uma amiga, uma companheira, uma dessas criaturas cheias de compaixão que conseguem vergar as inclemências da sorte. Levámos tempo a confessar um ao outro o nosso amor, tu por uma espécie de reserva esquiva, eu porque temia ser apenas objecto de piedade. Aparecias cada vez mais vezes fora das horas de leitura. Á hora do almoço, passavas a buscar-me. Íamos até ao cais. Guiavas-me.

25
Jun10

AS MADRUGADAS DE LINDA LÊ LIDO VI

AnnaTree

coisas lidas

(...)

tinha necessidade de falar(..) sem prestar atenção á expressão de repugnância que se desenhava no meu rosto, lançou-se numa longa diatribe contra as mulheres com cio, coelhas sempre á caça e cujos sonhos são povoados de cópulas chamejantes e concursos de orgasmos. Quanto mais envelhecem, mais o apelo da natureza se torna urgente. A regente era, nessa matéria , um ogre , uma Circe esfomeada. Os porcos de que se alimentava estavam inteiramente á sua mercê, felizes por satisfazer a presidente do Concórcio. E ele, o marido-fantoche, ele estava ali a embriagar-se . não que o ciúme o torturasse, mas, ainda assim, não era tudo aquilo ignóbil? Queria-me para cúmplice.

(...)

com a minha mãe ,abandonara-se á guerra para não se deixar devorar. Mas era isso o amor? Feito de tantos ódio e amargura? E não desistira ele logo nos primeiros anos do casamento? A pintura abandonara-o , nada lhe restava. A minha mãe apoderara-se dele. Era o seu bode expiatório.

22
Jun10

AS MADRUGADAS DE LINDA LÊ LIDO V

AnnaTree

coisas lidas

(...)

feliz por teres conseguido fugir.

(...)

entregaste-vos por inteiro á conquista do eu. Essa luta não era fruto da ambição, resultava antes de uma ética pessoal que queria que vos consagrásseis á busca da verdade. Verdade de si e verdade do mundo, ódio ao falso e horror á mentira.

(...)

a solidão amadurecera-vos. Quanto a ele. Parecia ter cristalizado numa adolescência eterna, como um fruto colhido demasiado verde.

(...)

o amor que vos unia era frágil como um fio prestes a romper-se. Vós avançáveis, ele fugia.vós dáveis, ele retirava-se.

(...)

saído da adolescência, apenas me sentia atraido por mulheres maduras, a maior parte delas casada e já mãe. O seu corpo amolecido pela idade, marcado pela gravidez comovia-me.

(...)

assim, eu tinha deixado de falar da Dama dos meus sonhos, a que cada uma destas passantes era uma alusão, mas que nenhuma substituía. Davam todas as provas dessa paciência própria de quem não espera mais nada da vida senão um remédio para a sensação de se ter sido abandonado por Deus. Eu era o antiodoto das suas mágoas, a panaceia que curava a falta de amor. Não tinham qualquer ilusão sobre o lugar que pretendia ocupar. Eu viera apenas tratar uma ferida, desapareceria antes que o mal se fosse. Com elas, conheci a somas das resignações que faz a equação de uma vida. A seu lado, soube quão fugazes são os momentos de plenitude, difícil a reconcialiação  com esse estranho em que a vida nos transforma. Mas aprendi também a gozar felicidades efémeras, beijos roubados ao tempo que passa, carícias furtivas numa pele envelhecida, reconhecida por todas as doçuras, risos abafados sob os lençóis, palavras cúmplices e frases fulgurantes.

19
Jun10

José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 — Lanzarote, 18 de Junho de 2010

AnnaTree

 

Morreu ao lado da mulher que um dia o fez parar todos os relogios da casa ás quarto da tarde – a hora em que  conheceu Pilar Del Rio

 

Rosa Ramos Lido jornal i 19 jun 2010-06-19

 

 O prestigio mundial que o Saramago atingiu é óbvio que merece o respeito. Como catolico vou rezar pela sua alma. Ele por esta hora tambem já deve ter percebido que a tem. Em termos de pessoa tinha um ego super abundante, saia sempre em cima dos ombros de si proprio. As criticas a portugal sao um disparate proprio de quem tem uma veia artistica, sempre exotico. Essas criticas têm a ver com o ego, prestigio e com a importancia que dava a si proprio.(....) não gosto da escrita de saramago. Considero-a pesada , critica , maçadora, mas respeito.

Sousa Lara lido jornal i 19 jun 2010

 

«o pior que a morte tem é que antes estavas e agora já não estas» Jose Saramago

 

 

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