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COISAS LIDAS
Quando me vieram chamar, nem acreditei:
- É Zuzezinho! Está caindo do prédio.
(aquele gerúndio era um desmando nas leis da gravidade: quem cai, já caiu.
Enquanto corria, meu coração se constringia. Antevia meu velho amigo estatelado na calçada. Que sucedera para se suicidar, desabismado? Que tropeção derrubara a sua vida? Podia ser tudo: os tempos de hoje são lixívia, descolorindo os encantos.
(…)
Atirara-se quando? Já na noite anterior, mas o povo só notara no sequente dia. Apontara-se logo a multidão e, num fósforo, se fabricaram explicações, epistemologias. Que aquilo provinha de ele ter existência limpa: lhe dava a requerida leveza. Fosse um político e, com o peso da consciência, desfechava logo de focinho.
(…)
Onde nada se passa, tudo pode acontecer.
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