Cesário Verde Deslumbramentos
Deslumbramentos Milady, é perigoso contemplá-la
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Deslumbramentos Milady, é perigoso contemplá-la
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Deslumbramentos Milady, é perigoso contemplá-la
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" tudo o que não seja viver escondidinho numa casinhota, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor - me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil" Eça de Queiroz
O melhor pianista do mundo
Coisas declamadas
Assistes á queda das folhas,
Á fría coreografía do inverno.
Roubas a virtude do que arde,
A esquiva realidade.
(…)
Vê o que se suspende.
O lugar em que brincavas.
Já então ao abandono.
Tambem tu o abandonaste.
Cerca-o com a tua infelicidade
Coisas mailadas
Henry Sobel, por ocasião da morte de Mário Covas contou a seguinte parábola:
Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara.
O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi". Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro" !!!
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá :
"já está chegando". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.
Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas.
De idas e vindas. Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Assim, um dia, todos nós partimos
como seres imortais que somos todos nós ao encontro daquele que nos criou
Coisas Lidas
Picasso queria pintar mas faltavam-lhe tintas. Em vez de sair de casa e entrar numa loja, como faria grande parte das pessoas, decidiu usar apenas as tintas que lhe sobravam, mesmo que fossem todas da mesma cor. E assim começou o período azul. Já ouvi esta história contada algumas vezes. É improvável. No entanto, serve para explicar como a necessidade apura o engenho criativo. Na gravação de «twist and shout» John lennon canta com voz de noitada de copos cocaína. Os beatles endureciam dessa forma o seu rock & roll. Tudo porque Lennon estava com problemas de garganta e teve de gritar a canção. Quando perguntaram a Paul Thomas Anderson por que razão, nos primeiros 15 minutos do filme «there will be blood», não há diálogo, o realizador respondeu: «não me lembrei de nada que as personagens pudessem dizer». O chileno Roberto Bolaño escreveu muito (e com mais qualidade) após ficar doente, porque queria deixar um meio de subsistência para a família antes de morrer. Na China de hoje, há um milhão de escritores a ganhar a vida com livros que são vendidos na internet. Cada livro custa 50 cêntimos e os autores ficam com 50 a 70 por cento da receita, mas tem um de produzir um determinado número de palavras por dia e chegam a cumprir turnos de 10 horas. Há mais um constrangimento á criatividade: a censura. Mas estamos a falar de um milhão de pessoas a escrever. O que agora nos parece uma fábrica de salsichas literárias gerida a chicote, pode muito bem produzir alguns dos grandes escritores do século.
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