FRANCISCO POR RODRIGO FRANCISCO 20 ANOS DNA JOVEM
Coisas Lidas
Tínhamos o quê? Dezasseis? Dezassete anos (…) íamos buscar-te ao colégio e esperava enquanto mudavas de roupa na pastelaria do Sr. Fonseca (…) entre as seis e as sete, era a mudança de turno das empregadas. E a Adelina e a Lurdes e vinham a Isaura e a Joaquina. Fazíamos amor na sala, no hall de entrada, e na casa de banho, nem sempre por esta ordem (…) no outro dia era igual.
Quando vinham a casa, os teus pais traziam-te chocolates e postais (…) se te perguntava onde estavam tu dizias que, de certeza, em nenhum sítio daqueles porque eles nunca iam aos mesmos sítios. Dizias isso com os olhos a brilhar, e eu tenho pena de nunca te ter perguntado se era porque te sentias sozinha ou porque tivéssemos estado a fumar (…). Aos fins-de-semana, tinhas uma tia-avó enviada pelos teus pais. Esperavas que ela adormecesse para irmos passear para o centro comercial. Escolhíamos os filmes em que achávamos que estivessem menos pessoas. Normalmente europeus. Não me lembro de nenhum. No centro comercial havia colegas tuas que andavam às compras com as mães. E segredavam-lhes coisas quando nós passávamos (…)
Mas um dia os teus pais levaram-te e eu nunca mais soube nada de ti.
Vi-te há algum tempo numa revista. Estavas bonita. Casaste bem. Um tipo louro com punhos e pescoço fortes, confiantes. Uma casa grande e um jardim com muitas árvores. Havia (…) miúdos. Ele é como eu sempre imaginei que fosse. Os olhos e o cabelo castanhos. Obrigado por teres cumprido a promessa. Isso eu nunca te teria perdoado