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Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

30
Mar12

Os cromos de Rita Ferro O DESLUMBRADO

AnnaTree

Coisas Lidas

 (…)

Dava um rim por um título de Loulé ou de Lafões, mas já se contentava com um apelido enxuto. Não tem dinheiro, grande figura ou casa para receber, mas quer vestir as mesmas coisas e jantar nos mesmos sítios.

Está no seu direito, mas tem de se esforçar muito.

Pode chamar – se Pedro Longarina Torneira de Melo à vontade, porque já descobriu que, se conservar apenas o primeiro e o último nome, adquire «dignidade».

E todos os dias escala os himalaias sociais com uma bravura acrobática.

(…)

Como ninguém o investiga, é possível que chame «herdade» ao quintal que tem no Magoito e «palácio de Carnide» ao casebre de cheiro ativo com que o padrinho o brindou em testamento.

Não tem família, ou por outra, tem-na, mas não a mostra: não se pode dar ao luxo de apresentar os pais, os avós, os irmãos. E percebe-se: para uma pessoa que transcendeu o seu meio á custa de sacrifícios, estudou com dificuldades, enjeitou costumes e linguagens, galgou a pulso, apreendeu o bom gosto e assimilou o civismo para encontrar aceitação neste mundo, é com certeza penoso ver todo o seu esforço ruir pela simples delação de uma parente saloia. E quem diz saloia diz pobre, ou ignorante, ou feia, ou mal vestida, ou ordinária, ou qualquer outro traço genuíno com poder social para gorar, por si só, todo um estatuto adquirido.

(…)

Por razões de segurança, queima os álbuns de infância sem contemplações e vira a cara na rua aos companheiros de turma.

De renúncia em renúncia, vai conseguindo o que quer. Ninguém sabe como é convidado para tudo, de Vilamoura a Sidney e do Minho a Macau, mas lá arranjou maneira de constar dos mailings das discotecas in, das galerias em voga e das embaixadas concorridas.

(…)

É capaz de negar a própria origem, e, ao fim de alguns anos de prática, não sabe de que terra é.

(…)

Não se tem em grande conta e sabe a chacota a que está sujeito; mas acha que não tem outro remédio e reincide no desespero.

(…)

É de direita, mas não sabe bem porquê. Não é nobre, nem militar, nem católico, nem monárquico, nem conservador nem mesmo interveniente; é de direita por indigência, por servilismo. Adora o rei de Espanha porque acha que «o senhor tem bom aspeto»

28
Mar12

Os cromos de Rita Ferro O INTELECTUAL ESTÚPIDO

AnnaTree

Coisas Lidas

 (…)

O intelectual estupido não pensa, não cria, não imagina, não sonha, não ouve nem compreende ninguém, mas acumula dados; renega o instinto, apoia-se nas citações, problematiza as coisas mais evidentes, tem um comportamento esquizoide perante as realidades e um discurso obtuso que impinge indiscriminadamente a qualquer tipo de vítima, do douto ao construtor civil.

(E é geralmente em cafés, tertúlias, exposições e lançamentos, onde já tem croquete cativo, que o intelectual estúpido captura as suas presas.

(…)

Como fazer compreender a esta gente cheia de si que o verdadeiro intelectual gosta de especular e não andar atrás dos outros para lhes provar que sabe coisas?

(…)

No entanto, a estupidez deste «intelectual» decorre de algo muito simples e que se detecta imediatamente: a capacidade de compreender tudo, menos a sensibilidade dos outros. E há ainda pelo menos uma coisa de que, seguramente, nunca ouviu falar: sintonia.

 

 

26
Mar12

Os cromos de Rita Ferro O SOBREVIVENTE

AnnaTree

Coisas Lidas

(…)

Os eleitores perceberam finalmente que havia nazis dos dois lados, e até dentro deles, e a política foi chão que deu uvas.

(…)

Mas o pior foi quando a Esperança se extinguiu e até as grandes potências se distraíram e deixaram esgotar as reservas; foi aí que os americanos inventaram um novo sutiã chamado «Hope_bra» e que escolheram um homem para o demonstrar. Mas já era tarde, mãe, e se o seu filho ainda está vivo é porque foi o último homem do Mundo a perder a Esperança.

Mas nem isso me consola: não tenho ninguém com quem conversar e já nem esperanças tenho de que a mãe leia esta cart…

22
Mar12

não passou Carlos Drummond De Andrade

AnnaTree

Coisas Declamadas

 

Não Passou

passou?

Minúsculas eternidades

deglutidas por mínimos relógios

ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.

A mão - a tua mão, nossas mãos-

rugosas, têm o antigo calor

de quando éramos vivos. Éramos?

 

Hoje somos mais vivos do que nunca.

Mentira, estarmos sós.

Nada, que eu sinta, passa realmente.

É tudo ilusão de ter passado.

20
Mar12

O ESPELHO 30/12/2003 DNA

AnnaTree

 

Coisas Lidas

 

 

Olho o espelho pendurado na parede e sei que o que vejo é apenas um reflexo de mim. Ser mutante. Não me conheço de verdade. A realidade é enganadora. Que forma terá o espirito? Perco-me nos pensamentos. Mas não sinto medo. Experimento a incerteza do desconhecido. Atrai-me o abismo. É um atracão suicida que destrói este corpo vagabundo, diabólico, como os dragões que habitam as colinas a que todos viram costas. Parto para destino incerto. Quanto mais longe mais próximo fico de mim, fantasma de carne e osso. Se ao menos soubesse quem sou...[...] Olho o espelho pendurado na parede e sei o que vejo é apenas o reflexo de mim. A realidade é enganadora. Perante aquela imagem só podia sentir indiferença. Tenho o antídoto das ilusões que me vai resgatar deste ciclo de sofrimento. O mundo não é apenas isto. O verdadeiro mundo está para lá deste espelho. Outra vida para além que sou hoje fará de mim o ser de amanhã. Isto chega para uma vida inteira. [...] Para lá do espelho vejo o caminho longínquo. Todos a caminhar para lá, perdidos. «Só lá chegarás quando te esqueceres de ti...»

 

[...]

 

O velho espelho escoriado na parede mostra-me as respostas. Para lá de mim estão todos os ensinamentos.

 

(Desconheço autor)

Pág. 1/3

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