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Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

15
Jun12

A arte de amar Ovídio

AnnaTree

Coisas Lidas

 

(...)
Será que podia o amor ser ensinado, será que podiam amestrar-se  os amantes, como quem se assenhoreasse, pouco a pouco, de uma técnica que permitisse, no fundo, aprisionar a prisão?
(...)
Se tantos outros foram capazes de deitar mão da poesia para ensinar múltiplas artes, entendia Ovídio que também podia, ele que conhecia de perto o amor, ousar ensina-lo. Porque acreditava, por convicção e experiencia, diversa, por certo, das experiencias dos outros poetas, que o amor, como tudo na vida, obedece   a uma técnica, como todas as técnicas, pode ser ensinada (e aprendida). Com proveito.

12
Jun12

LER DEVIA SER PROIBIDO (texto completo original Guiomar de Grammont )

AnnaTree

Coisas Lidas

 

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

 

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary.

 

O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

 

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram.

 

Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

 

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

 

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

 

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens.

 

Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

 

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

 

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

 

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlim-pim-pim, a máquina do tempo.

 

Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

 

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

 

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

 

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

 

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

 

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

08
Jun12

MAR ME QUER MIA COUTO IV

AnnaTree

Coisas Lidas

 

Mas é pena eu e a vizinha não nos simetricarmos. (…) Sou mais novo que ela, mas já estamos ambos na encosta de la em que a vida só mexe quando é a descer.

(…)

E ate que dona Luarmina, já foi bela de espantar a homenzarrada.

(…)

Resta-me a presente figura de Luarmina, gorda e engordurada. A mulher, por raspões de angústia, se deixara acumular, quilos sobre o peso. Eu entendi: uma boa maneira de escondera tristeza é cobrirmo-nos de carne. O sofrimento é fatal quando atinge os ossos. (…) Sábio é dar cobertura ao corpo, intermediar gordurosas fronteiras.

 

04
Jun12

MAR ME QUER MIA COUTO III

AnnaTree

Coisas Lidas

(…)

- Deixe-me Zeca. Eu sou velha, só preciso é um ombro.

Confirmando esse atestado de inutensilio, ela esfrega os joelhos. (…) As pernas dela, da maneira como incham, dificultam as vias do sangue. Lhe icebergam os pés, a gente toca e são dois blocos de gelo. Um dia, aproveitei para me oferecer.

- Quer que lhe aqueça os pés?

Arrepiando expectativa, ela ate aceitou. Ate que eu fiquei assim, meio desfisgado, o coração atropelando o peito.

- Me aquece., Zeca?

- Sim, aqueço mas….Pela parte de dentro.

Tentava um deslize na defesa dela. Mas levei tampa. Eu estava como essoutro que foi lavar a mão e sujou o sabão. (…) Meu falecido avô sempre dizia:

-em novos só nos ensinam o que não serve. Em velhos só aprendemos o que não presta.

Pág. 2/2

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