Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
COISAS DECLAMADAS
um Jovem Poeta
Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças
como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.
Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.
COISAS DECLAMADAS
A única esperança que me resta és tu:Independente e solta de limites à imaginação,Porque me deixas sonhar-te
E, por alguns instantes, sentir-me intocável –Indiferente à vida que por aqui passa e devassa corpo e alma. Sonho-te e brilham-me os olhos
Tornando tudo tão claro mas, ao mesmo tempo, Tão profundamente escuro
E… distante; Longe, como só os sonhos e os pensamentos sabem estar. Abraço-me a ti…Procuro em vão impedir-te de partir;
Procuro adiar o inadiável;
Procuro no meu sorriso, misturado com o teu, ver mais dos dois
E tentar uma fazer interpretação do irreal…
COISAS DECLAMADAS
Triste, Poeta, triste a florzinha azul que sem querer pisaste no teu caminho...
Miosótis disseste, inclinado um instante sobre ela.
E ela acabou de morrer, aos poucos, dentre a relva úmida.
Sem nunca ter sabido que se chamava miosótis.
Nem quereria impregnar, com o seu triste encanto,
O teu poema daquele dia...
[Mario Quintana; Canções, 1946]
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.