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Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

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Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

24
Abr13

«cocô» de guy de maupassant

AnnaTree

COISAS LIDAS

em toda a região, chamava -se á propriedade dos Lucas«as metades»(...) tratava-se indescutivelmente da mais vasta, mais opulenta e mais bem organizada provincia
(...)
os animais, cavalos, vacas, porcos e carneiros, andavam gordos, limpos e asseados; e o patrão Lucas, um homem alto que começava a criar barriga, fazia a ronda a prpriedade três vezes ao dia, zelando por tudo, pensando em tudo.
por caridade, conservavam , no fundo do estabulo, um velho cavalo branco que a senhora Lucas pretendia alimentar até á morte, pois criara-o, conservara-o junto de si e suscitava-lhe recordações.
um moço de lavoura, um jovem boçal de quinze anos de idade, chamado Isidore Duval, mais simplesmente conhecido por Zidore,fora encarregado de cuidar do animal inválido, fornecendo-lhe, de inverno, a ração de aveia e forragem, e, no verão, conduzindo-o até a encosta, onde quatro vezes por dia, o mudava de local, a fim de que dispusesse de erva fresca em abundância.
o animal, quase paralitico, arrastava penosamente as patas pesadas, grossas nos joelhos e inchadas acima dos cascos. o pêlo, que já ninguém escovava, assemelhava-se a uma cabeleira ruça, e os longos cilios conferiam-lhe uma bem triste expressão.
quando Zidore o conduzia ao pasto, precisava de puxar pela corda, pois o animal avançava lentamente, e o moço, encurvado, arquejando, praguejava, exasperado por ter de cuidar do velho sendeiro.
o pessoal da herdade, vendo a raiva que Zidore alimentava contra Cocô, gracejava, falava constantemente do cavalo a Zidore, a fim de irritar o rapaz. os colegas troçavam dele. na aldeia, chamavam -lheCocô-Zidore.
o moço ripostava, sentindo nascer dentro de si o desejo de se vingar do cavalo.
(...)
muitas vezes, contrariando as ordens do patrão Lucas, economizava na alimentação do cavalo, fornecendo-lhe meia ração, poupando na forragem e no feno. e o ódio crescia no seu espirito confuso e infantil, um ódio de camponês avaro, de camponês matreiro, feroz, brutal e cobarde.
chegado o verão , zidore viu-se de novo incumbido de ir mudar o animal de local.era longe. o moço cada dia mais furioso, partia no seu passo pesado através das searas. o s homens que trabalhavam nas terras gritavam-lhe, trocistas:
-eh! zidore, dá cumprimentos meus ao Cocô.
(...)
um unico pensamento ocupava o espirito do rapaz«por que razão alimentar um cavalosem préstimo?» parecia-lhe que o miserável animal roubava o sustento dos outros, roubava os ganhos dos homens, os bens do bom Deus, e roubava-o a si, Zidore, que trabalhava.
então, progresivamente, dia a dia, Zidore, reduziu a área de pastagem de Cocô, deslocando a estaca de pau em que fixava a corda.
o animal jujuava, emagrecia, perecia. demasiado fraco para quebrar a amarra, estendia o focinho para a erva verde e luzidia, tão proxima , e cujo odor lhe penetrava pelas ventas, sem que a pudesse alcançar.
mas, uma manhã, zidore teve uma ideia: não mais deslocar cocô . estava farto de caminhar ao serviço daquela carcaça.
Ainda lá foi, porém, mais para saborear a vingança. O animal, inquieto, fitava-o . nesse dia, não lhe bateu. andou á sua volta, de maos nos bolsos. fez menção de o mudar de lugar, mas voltou a enterrar a estaca no mesmo orificio, e foi-se embora, encantado com a invenção.
o cavalo vendo -o partir, relinchou a fim de o chamar; mas o rapaz deitou a correr, deixando-o só, isolado no vale, bem preso, e sem um pé de verdura ao alcance da mandibula.
esfomeado, Cocô tentou atingir a erva apetitosa que tocava com a extremidade nas ventas.ajoelhou-se, esticou o pescoço, alongou os grandes beiços babosos. em vão. durante o dia, o velho animal, extenuado, envidou inuteis e terriveis esforços. a fome devorava-o, mais atroz ainda ante a visão de toda aquela verdura que se scondia até ao horizonte.
naquele dia o rapaz não voltou. errou pelo bosque, em busca de ninhos.
reapareceu no dia seguinte. cocô, esgotado, deitara-se. levantou-se ao avistar o rapaz, aguardando, enfim, que o tirasse dali.
mas o jovem camponês nem sequer tocou na estaca, caida na erva. aproximou-se, mirou o animal, lançou-lhe ao focinho um torrão de terra que se desfez contra a pelagem ruça, e afastou -se assobiando.
o cavalo permaneceu de pé até perder de vista o rapaz; depois, sentindo que quaisquer tentativas no sentido de alcançar a erva seriam inuteis, estendeu-se de novo sobre o flanco e fechou os olhos.
no dia seguinte, zidore nao veio.
dois dias depois, quando se aproximou de cocô, ainda deitado, apercebeu -se que o cavalo morrera.
então, deixou-se estar de pé, olhando-o, satisfeito com a obra, supreendido pelo rápido desfecho. tocou-lhe com o pé, levantou-lhe uma das patas, soltou-a de seguida,, sentou-se-lhe em cima, e ali ficou, de olhos fixos na erva, sem pensar em nada.
regressou á quinta, mas não mencionou a ocorrência, pois queria continuar a vadiar durante as horas em que, habitualmente, deveria mudar o cavalo de lugar.
no dia seguinte, foi vê-lo. ao aproximar-se, um bando de corvos levantou voo.pelo cadaver, passeava um numero infindo de moscas zombindo á sua volta.
já em casa, relatou o acontecimento. o animal era tão velho , que ninguém se surpreendeu. o patrão ordenou a dois criados:
- peguem nas pás e abram uma cova onde ele estiver
e os homens enterraram o cavalo, precisamente no local em que morrera de fome.
e a erva cresceu, vigorosa, verdejante,abundante,alimentada pelo corpo do pobre animal.

22
Abr13

velando um morto de guy de maupassant

AnnaTree

COISAS LIDAS

definhava, como definham os tuberculosos. vi-o sentar-se todos os dias, pelas duas da tarde, debaixo das janelas do hotel, frente ao mar, num banco da alameda. conservava-se imovel durante algum tempo, ao calor do sol, contemplando o mediterraneo com um olhar triste. por vezes, mirava de relance a elevada montanha de cumes bromosos que rodeia menton; depois, num movimento muito lento, cruzava as longas pernas, tão magras que pareciam dois ossos, em redor dos quais flutuavam as calças, e abria um livro, sempre o mesmo.
a partir daí, já não se movia mais, lia, lia,lia com o olhar e o pensamento; todo o seu pobre corpo moribundo parecia ler, toda a sua alma mergulhava , perdia-se, desaparecia no livro até ao momento em que o ar fresco o obrigava a tossicar.entao, levantava-se e regressava ao hotel.
era um alemão, alto e de barba loura, que almoçava e jantava no quarto, sem falar a ninguém.
atraia-me uma vaga curiosidade. um dia , sentei-me ao seu lado, munido de um volume das poesias de musset, para disfarcar.
e pus-me a ler Rolla.
o meu companheiro perguntou-me imediatamente, em bom francês:
-o senhor sabe alemão?
-absolutamente nada.
-lamento. já que o acaso nos colocou lado a lado, mostrar-lhe-ia uma coisa inestimável:este livro que aqui tenho.
-qual?
-é um exemplar do meu mestre Shopenhauer, anotado por ele. como vê, todas as margens se encontram escritas pelo seu punho.
peguei no livro, com o maximo respeito, e contemplei mas formas incompreensiveis para mim, mas que revelavam o pensamento
imortal do maior devastador de sonhos que jamais passou por este mundo.
(...)
a verdade é que shopenhauer marcou a humanidade com o selo do seu desdém e do seu desencanto.
boemio , desiludido, derrubou as crenças, as esperanças , as poesias, as quimeras, destruiu as aspirações, arrasou a confiança das almas, liquidou o amor, abateu o culto ideal da mulher, desfez as ilusões dos corações, realizou a mais gigantesca obra de céptico jamais vista. o seu escarnio em tudo penetrou, e tudo arruinou. e ainda hoje, mesmo aqueles que o detestam, parecem trazer no espirito, mau grado seu, parcelas do pensamento do grande mestre.
-conheceu, então, pessoalmente shopepenhauer?- perguntei eu ao alemão
-até á sua morte.
(...)
- na verdade, o seu sorriso era tão assustador que, mesmo depois da morte, nos aterrou. se lhe interessar, posso contar-lhe uma historia quase desconhecida.
e começou, numa voz fatigada, interrompida por ataques de tosse:
- shopenhauer acabara de morrer e decidimos vela-lo por turnos, dois a dois, até de manhã.
«encontrava-se num quarto muito simples, amplo e sombrio. na mesinha-de-cabeceira, ardiam duas velas.
«foi á meia noite que ocupei o meu lugar. juntamente com um dos nossos amigos. os dois colegas que deviamos substituir sairam, e nós sentámo-nos ao pé da cama.
«a expressão do rosto não se alterara. ria-se. a ruga que tão bem conhecemos acentuara-se na comissura dos lábios, e parecia-nos que se preparava para abrir os olhos, mover-se,, falar. o seu pensamento , ou antes, os seus pensamentos , envolviam-nos; sentiamo-nos mais do que nunca na atmosfera do seu génio, invadidos , possuidos por ele. o seu poder parecia-nos agora, que se encontrava morto, ainda mais soberano. um mistério perseguia o poder daquele incomparavel espirito.
«os corpos de certos homens desaparecem, mas eles permanecem; e assegure-lhe, meu caro senhor, que , na noite que se segue a paragem do coração, são assustadores.
«e em voz baixa, falamos do defunto, recordando palavras, formulas, essas maximas surprendentes que jorram como luz, em poucas palavras, nas trevas da vida desconhecida.
«-parece-nos que vai falar- disse o meu colega.
«e olhávamos, com uma inquietação que rasava o medo , o rosto imóvel e sorridente.
«começámos a sentir-nos pouco á vontade, oprimidos, desanimados. murmurei:
«- não sei o que tenho, mas asseguro-te que estou doente.
«apercebemo-nos, então, de que o cadaver cheirava mal.
«o meu amigo propôs que passeássemos para o quarto contíguo, deixando a porta aberta; aceitei.
«peguei numa das velas que ardia na mesinha de cabeceira e fomos sentar-nos na extremidade oposta do outro quarto, de modo a vermos o leito do morto, à luz da segunda vela.
«mas ele continuava a obsidiar-nos ; dir-se-ia que o seu ser imaterial, liberto, omnipotente e dominador, rondava à nossa volta. e o infame odor do corpo em decomposição chegava por vezes até nós , penetrando-nos, repugnante e vago.
«subitamente, passou-nos um arrepio pela espinha: um ruido , um ruido muito leve vinha do quarto do morto. os nossos olhos voltaram-se para ele e vimos, pode crer, meu caro senhor, vimos ambos perfeitamente uma coisa branca correndo sobre o leito, cair no tapete e desaparecer debaixo de uma poltrona.
«sem pensar, pusemo-nos de pé, dominados por um terror estupido, prontos para fugir. depois, olhámo-nos. estavamos horrivelmente pálidos. os nossos corações pulsavam tão imensamente que se adivinhavam sob os fatos. fui eu o primeiro a falar:
«-vite?...
«-vi, sim.
«-será possivel que não esteja morto?
«-mas , se entrou em putrefação...
«-que fazemos?
« o meu amigo declarou, hesitante:
«-precisamos de o ir ver.
«peguei na vela e entrei á frente, perscrutando o amplo quarto com o olhar , até aos recantos mais sombrios. nada se movia; aproximei-me do leito. fiquei estupefacto e aterrorizado; shopenhauer cesara de sorrir! esboçava um horrivel esgar, de boca fechada e faces profundamente cavadas. murmurei:
«- não está morto!
«mas o pavoroso odor subia-me ao nariz, sufocava-me. e eu não me mexia, olhando-o fixamente, assustado como perante uma aparição .
«então, o meu companheiro, que pegara na outra vela, debruçou-se. depois, tocou-me no braço, sem uma palavra. segui o seu olhar e avistei no chão, debaixo da poltrona que se encontrava ao lado da cama, muito branca no tapete escuro, a dentadura de shopenhauer.
« o trabalho da decomposição , descerrando as maxilas, expelira-a da boca.
«naquele dia, meu caro senhor, senti um medo atroz.
e, como o sol se aproximasse do mar cintilante, o alemão tisico levantou-se, cumprimentou-me e regressou ao hotel.

06
Abr13

O PREÇO DO AMOR

AnnaTree

Coisas Mailadas

 

Uma tarde, um menino aproximou-se da sua mãe, que preparava o jantar, e entregou-lhe uma folha de papel com algo escrito. Depois que ela secou as mãos e tirou o avental, ela leu:

•      Cortar a relva do jardim 15€

•      Por limpar o meu quarto esta semana 5€

•      Por ir ao supermercado por sua vez 10€

•      Por cuidar do meu irmãozinho enquanto você ia ás compras 10€

•      Por levar o lixo durante toda a semana 5€

•      Por ter tirado boas notas 25€

•      Por limpar e varrer o quintal 10€

 

Total da divida = 80€

 

A mãe olhou o menino, que aguardava cheio de expectativa.Finalmente, ela pegou num lápis e no verso da mesma folha escreveu:

    Por trazer-te nove meses no meu ventre e dar-te vida – NADA

    Por tantas noites sem dormir, curar-te e rezar por ti – NADA.

    Pelos problemas e pelos prantos que me causaste – NADA

    Pelo medo e pelas preocupações que me esperam – NADA

    Por comidas, roupas e brinquedos – NADA.

    Por te limpar o nariz – NADA

 

Custo total do meu amor – NADA

 

Quando o menino terminou de ler o que a mãe escreveu tinha os olhos cheios de lágrimas. Olhou nos olhos da mãe e disse: « eu te amo mãmã» logo após pegou no lápis e escreveu com letra Maiúscula

«TOTALMENTE PAGO!»

01
Abr13

Entrevista a David mourão Ferreira por Anabela Mota Ribeiro ao Jornal Noticias caderno DNA

AnnaTree

COISAS LIDAS

D.F. «Tentei fugir da mancha mais escura que existe no teu corpo e não consegui/era pior que a morte que antevi…»(…) São José, que é uma figura em que as pessoas não pensam devidamente, o pai de Jesus, não é o pai natural. A cena do presépio leva-nos a crer que a familia natural não é a familia de sangue, é a familia do coração. É uma lição de tolerância fantástica. Quando se vê o mundo dividido em fundamentalismos religiosos ou racismos de toda a especie, aquela relação do São José com Jesus é a maior lição de tolerância.

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