Entrevista de Anabela Mota Ribeiro a João Lobo Antunes DNA
Coisas lidas
João Lobo Antunes JLB: sabe o que o quadro mais reproduzido não é Monalisa? É o “o grito“, do Munch. É o grito da alma. Outro dos quadros que mais me impressionaram, porque foi um murro, a “Guernica“. Está cheio de alma, de gritos de alma.
(...)
Eu tenho uma relação pacífica com a minha alma, Amamo-nos bem. Para là da alma, hà outra entidade, que não sei onde está ancorada, outra maneira de sentir e de pensar. Muitas vezes assisto ao diálogo destas duas entidades que coexistem dentro de mim. Diria que a alma tem camadas mais profundas, os braços mais largos.
Anabela Mota Ribeiro AMR : Acolhe tudo?
JLA: não tem rosto. Ou se tem, é um rosto feminino ou andrógino. É acolhedora, mas tem desgostos, tristezas. É onde eu habito, talvez .Uma coisa que me tem ocupado é como é que mantemos a continuidade do que somos. Olho para o espelho e estou obviamente mais velho (....) de repente o tempo aparece com a sua verdadeira face. Apesar de tudo, continuo a pensar que sou menino, porque há uma continuidade. A um fio que não se partiu,, isso está na alma. O outro eu, que é mais ativo, que sai para fora, esteve mais marcado pelos seus tempos: adolescência, a maturidade, e a maturidade técnica, um certo estatuto. Que a alma não se reconhece, mas que o outro reconhece, entra “ tornou-se um ser importante, conhecido“ para alma é o mesmo, vai sussurrando.
(....)
Alguém me disse que os homens que tiveram irmãs tratam melhor as mulheres se calhar é verdade.