Coisas lidas
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Cristina Alves viu na televisão anúncio da escola náutica, telefonou para lá e abrir as portas abriram-lhe as portas. Três anos depois, concluiu a licenciatura em arquitetura. Em simultâneo, tornou-se uma das primeiras mulheres Portuguesas a formarem-se em pilotagem marítima. “Ao fim das primeiras viagens, descobri que era mesmo o mar que eu queria.”(...) sobre a comandante Cristina, o que se compreende. Para além do carácter sui generis E da competência profissional, ela representam um tipo raro de mulher, capaz de se afirmar, se fazer respeitar e progredir até ao topo num meio quase obtusamente masculino, sem perder as características femininas. “Usava cabelo curto e vestia o fato macaco, mas sempre me maquilhei E nunca abdiquei dos meus brincos. Como era a única mulher no meio de tantos homens, durante tantos dias seguidos, às tantas já dizia: “um gajo como nós…“. O sentido de humor funcionou como arte de defesa e adaptação e ganhou fama rápida. As cabeleiras de Cristina, também. “Escolhi a cor de cada uma consoante a carga que levávamos (amarelo para o trigo , por exemplo)Divertia-me e divertia os outros, o que me ajudou muito ultrapassar assédios e más línguas, que existem de facto e são terríveis. Uma vez, ao fim de três ou quatro dias a bordo, há um marinheiro Que vai ter com o comandante lhe perguntou: “oh comandante, afinal quantas gajas há a bordo?”
Da estreia como praticante até ao primeiro comando de um navio, Cristina Alves fez por se “juntar ao gangue”. Leve e magra, ágil, servia para os trabalhos mais perigosos: verificar o calado do navio, pendurada à poupa por uma corda, ou descer ao porão para picar a ferrugem numa zona alta. Não se abstinha de participar nas manobras de acesso e saída do navio de porto ou nas tarefas mais “sujas”, como a limpeza dos fluídos acumulados nas cavernas.” Tornei-me um deles e, talvez por isso, sempre acataram as minhas ordens sem oposição.”
Homem livre, tu sempre gostarás do mar, disse Baudelaire.
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Foi então que decidiu desembarcar,”para fazer uma criança “. Ri. Passou os seis meses seguintes embarcada, grávida. O marido juntou-se-lhe em Veneza, para a primeira ecografia. A primeira filha nasceu em Lisboa e Cristina ficou a trabalhar nos escritórios da Portline nos quatro anos seguintes, durante os quais nasceu a segunda. Em 1991, aceitou comandar um navio - tanque e garante o carimbo mais alto na célula marítima. Três anos depois, mudou-se definitivamente para terra.
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Na verdade, só se descobre aquilo já existe.