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Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

Arvore De Letras

Coisas lidas,ouvidas,cantadas, declamadas,faladas,escritas

26
Jan21

De José Gomes Ferreira DEVIA MORRER-SE DE OUTRA MANEIRA

AnnaTree

Coisas lidas

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 (Fotografia ectoplasma em sessão espírita Violi)

 

 


Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
25
Jan21

Ciclo da vida ao contrário,desconheço o autor

AnnaTree

coisas lidas

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Dedicamo-nos a pensar no que é a vida, e qual seria o seu modelo mais perfeito. Realmente acabamos por chegar algumas conclusões extremamente interessantes… Como por exemplo: a coisa mais injusta na vida é a maneira como ela acaba. A nossa existência deveria justamente começar pela morte. 

os primeiros anos seriam passados num lar de terceira idade, até sermos expulsos por sermos novos demais. 

 alguém nos ofereceria um relógio de ouro  e um Ferrari  e íamos trabalhar durante 40 anos, até sermos suficientemente novos para nos reformar.Então desatávamos a experimentar drogas leves, álcool e muito sexo até ficarmos miúdos. 

nessa altura poderíamos começar a brincar todo dia e a gozar o facto de não termos qualquer responsabilidade. 

finalmente, chegados a bebés , voltávamos para o conforto da barriga da mãe, tomávamos um magnífico banho de imersão durante nove meses e acabamos com um orgasmo!

 

Desconheço o autor

 

12
Jan21

Os últimos marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

(...)

Cada um olha para o mar da maneira como olha para dentro de si mesmo.

(....)

Quando vês o sol assim para o leitoso, com a cor esbatida,ele está doente e vem aí a borrasca. Ou,então,repara em como a lua se deita ou põe de pé.  Lua deitada (em meia lua horizontal,virada para cima) marinheiro em pé, lua em pé ( em meia lua vertical,ou cheia), marinheiro deitado. É um ditado da Póvoa do Varzim.” Lembro -me de outros: com vento de feição, não há navegação; com vento de nordeste, até o marinheiro enjoa; se entra por terra a gaivota, é temporal que a enxota. Até há quem diga: quando há gente para marujo há gente para tudo.

(...)

“ Quanto maior é a nau, maior é a tormenta.”

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10
Jan21

Os últimos marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

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(...)

Uma das coisas mais bonitas que eu vi no mar? foi aos 16 anos, a 40 milhas a sudoeste do Cabo Raso, no que a gente chamava o mar dos ursos. Vi uma expansão aí com uns quatro ou cinco quilómetros por cima da água , tudo cheio de pescado e cherne, uma loucura! Uma riqueza! Também vi uma luta entre um tubarão é um espadarte, a 50 milhas ao sul de Sesimbra. Era verão, a aguinha estava toda parada. De repente, ouviu-se um gande barulho: eram as sapatadas, os saltos que um espadarte dava no ar, a tentar espetar um tubarão. Depois , via-se o tubarão ( um cornudo), de roda, a sacar como traçar o rabo do espadarte (que funciona como Leme). No fim,apareceram os dois mortos por cima da água. O tubarão,com a espada do espadarte espetada no meio do lombo. O espadarte, com a espada partida,o rabo cortado e todo traçado de dentadas do tubarão. Os dois a boiar ao lado um do outro. Nunca mais me hei-de esquecer.

07
Jan21

Os Últimos Marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

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(...)

Casou-se com a Rosa uns anos depois. Ela não tinha ciúmes do mar? “No nosso tempo, essa pergunta não se fazia. As mulheres cediam o homem ao mar, como as mães delas o tinham feito.”

(...)

Raul Brandão descreve: reparo num grupo petrificado. Fixo uma mulher alta, ossuda, com cara de cavalo, toda vestida de escuro, que geme baixinho a meu lado. A roupa encharcada pega-se-lhe no corpo, as mãos magras e tisnadas, de unhas roídas pelo trabalho, fincam-se-lhe no peito para conter os soluços que lho estalam. Geme sempre, e os olhos tem-nos presos ao longe, no negro torvelinho do mar e o céu que se confundem.É das poucas que não gritam, é das poucas, talvez, que compreendem… Mas não cessa de gemer - não pode abafar de todo aquele rangido que lhe vem de dentro e que é talvez o próprio coração esmigalhado pela desgraça...

06
Jan21

Os últimos marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

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(...)

Do mini frigorífico sobre a pequena mesa de madeira, o contramestre retira pedras de gelo, as sete costumeiras, para o copo de whisky. Um maço de cigarros e o cenário está completo para a pausa de descontracção antes do meio dia. “Em viagens grandes, apetrecho mais. Mas trago sempre tudo de Terra, exceto alimentação e roupa de trabalho (que a companhia fornece, e bem). Trago música, a minha companhia. E trago saudades.“ A profissão de Marítimo é considerada de desgaste rápido, pelo que idade mínima de reforma são os 55 anos.

(...)

“Os marinheiros dizem que dormem, os oficiais dizem que descansam”

05
Jan21

Os Últimos Marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

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(...)

Cristina Alves viu na televisão anúncio da escola náutica, telefonou para lá e abrir as portas abriram-lhe as portas. Três anos depois, concluiu a licenciatura em arquitetura. Em simultâneo, tornou-se uma das primeiras mulheres Portuguesas a formarem-se em pilotagem marítima. “Ao fim das primeiras viagens, descobri que era mesmo o mar que eu queria.”(...)  sobre a comandante Cristina, o que se compreende. Para além do carácter sui generis E da competência profissional, ela representam um tipo raro de mulher, capaz de se afirmar, se fazer respeitar e progredir até ao topo num meio quase obtusamente masculino, sem perder as características femininas. “Usava cabelo curto e vestia o fato macaco, mas sempre me maquilhei E nunca abdiquei dos meus brincos. Como era a única mulher no meio de tantos homens, durante tantos dias seguidos, às tantas já dizia: “um gajo como nós…“. O sentido de humor funcionou como arte de defesa e adaptação e ganhou fama rápida. As cabeleiras de Cristina, também. “Escolhi a cor de cada uma consoante a carga que levávamos (amarelo para o trigo , por exemplo)Divertia-me e divertia os outros, o que me ajudou muito ultrapassar assédios e más línguas, que existem de facto e são terríveis. Uma vez, ao fim de três ou quatro dias a bordo, há um marinheiro Que vai ter com o comandante lhe perguntou: “oh comandante, afinal quantas gajas há a bordo?” 

Da estreia como praticante até ao primeiro comando de um navio, Cristina Alves fez por se “juntar ao gangue”. Leve e magra, ágil, servia para os trabalhos mais perigosos: verificar o calado do navio, pendurada à poupa por uma corda, ou descer ao porão para picar a ferrugem numa zona alta. Não se abstinha de participar nas manobras de acesso e saída do navio de porto ou nas tarefas mais “sujas”, como a limpeza dos fluídos acumulados nas cavernas.” Tornei-me um deles e, talvez por isso, sempre acataram as minhas ordens sem oposição.”

Homem livre, tu sempre gostarás do mar, disse Baudelaire.

(...)

Foi então que decidiu desembarcar,”para fazer uma criança “. Ri. Passou os seis meses seguintes embarcada, grávida. O marido juntou-se-lhe em Veneza, para a primeira ecografia. A primeira filha nasceu em Lisboa e Cristina ficou a trabalhar nos escritórios da Portline nos quatro anos seguintes, durante os quais nasceu a segunda. Em 1991, aceitou comandar um navio - tanque e garante o carimbo mais alto na célula marítima. Três anos depois, mudou-se definitivamente para terra.

(...)

Na verdade, só se descobre aquilo já existe.

04
Jan21

Os Últimos Marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

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Coisas lidas

(...)

Portline Holding Hong Kong. “Fazemos a gestão técnica, comercial, de contratos e de tripulação, tudo que é necessário. É como se fossemos armadores, mas sem navios; aqueles que operamos podiam estar todos registados em Portugal, mas a presente legislação nacional não é convidativa”. Explica a comandante Cristina.

(...)

Os dados recolhidos pela Associação de armadores da Marinha do Comércio, é 1 janeiro 2015, indicam a existência de apenas 10 navios com registo português, todos eles com tripulantes exclusivamente portugueses (111 no total: 43 oficiais e 68 mestragem e marinhagem). O registo Internacional de navios da Madeira regista 200 navios,Entre eles apenas 24 controlados por armadores portugueses; de um total de 887 tripulantes, só 219 tem nacionalidade portuguesa.

03
Jan21

Os Últimos Marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas Lidas

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(...)

Chegamos à barra já com o sol a pôr-se. Ao passar os molhes,lá estão, à esquerda, as grandes pedras, muitas delas herdadas de troços das muralhas da cidade. À direita, eis a língua do paredão da praia da Barra e,por fim, o Forte Novo ou Castelo da Gafanha, o farol mais alto de Portugal é um dos 26 maiores do mundo. São 62 metros em altura de riscas brancas e vermelhas,uma figura altiva à luz do poente, que incendeia a areia e se espalha pelo casario.

01
Jan21

Os Últimos Marinheiros de Filipa Melo

AnnaTree

Coisas lidas

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(...)

Mário relata como o espadarte,engatado pela boca, é depois subido a bordo,”enforcado de cabeça para baixo “, para não sapatear e ferir alguém com a espada. Bastante apreciado pelos pescadores desportivos, este tipo de pesca caracteriza se, no método tradicional,por um braço de ferro direto entre o caçador e a presa; chama se “cadeira de combate” àquela onde se senta quem mede forças com o bicho depois de fisgado, por vezes durante horas. O espadarte é um peixe migratório de grande porte,habitante dos mares temperados e tropicais, àgil e veloz, cuja carne tem níveis elevados de ómega-3 e de mercúrio. Pode atingir mais de quatro metros de comprimento e 500 quilos de peso. Como o tubarão, trata-se de um sujeitinho traiçoeiro, temível por causa da espada de várias fileiras de dentes aguçados, uma verdadeira boca do inferno.

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