AS MADRUGADAS DE LINDA LÊ LIDO EM 2010 FEV
coisas lidas
Durante todo o mês em que estive com Forever, não parei de a interrogar sobre o que para mim era um enigma: como podia o meu pai ter amado duas mulheres tão diferentes quando ela, a Dama da borda d’agua, e a minha mãe, que eu via como uma artífice de conflitos, sempre a ruminar uma querela qualquer de que sairia vitoriosa? Encontrava aí a perfeita ilustração da tendência do homem para procurar a felicidade e amar o que faz a sua infelicidade.
(...)
Baralhava a imagem que eu tinha da minha mãe, pintando-a sob os traços de uma sonhadora desiludida que quisera viver com o meu pai o conto de fadas da princesa e do pobre. Ela tinha-o coberto de roupas sumptuosas e elevara-o até si esperando ser venerada sem condições. O meu pai fora feito para beijar os seus pés, beber do seu sapato. Mas ele tinha uma alma insubmissa, que recusava deixar-se ir no que classificava como frivolidades.
(...)
a minha mãe sofria com o seu desdém. Ele destruíra-lhe a miragem e o tempo ia acrescentando outras feridas e essa cicatriz original. Ela era como uma criança despeitada face ao animal favorito que se recusa a executar as habilidades que se espera dele. Adoptara-o na esperança de que ele a distraísse com mil e uma gracinhas, reverencias e mimos. Enfrentava um homem de gelo, que volvidos os primeiros tempos de amor atencioso , a tratava como propriedade sua .