AS MADRUGADAS DE LINDA LÊ LIDO V
coisas lidas
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feliz por teres conseguido fugir.
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entregaste-vos por inteiro á conquista do eu. Essa luta não era fruto da ambição, resultava antes de uma ética pessoal que queria que vos consagrásseis á busca da verdade. Verdade de si e verdade do mundo, ódio ao falso e horror á mentira.
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a solidão amadurecera-vos. Quanto a ele. Parecia ter cristalizado numa adolescência eterna, como um fruto colhido demasiado verde.
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o amor que vos unia era frágil como um fio prestes a romper-se. Vós avançáveis, ele fugia.vós dáveis, ele retirava-se.
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saído da adolescência, apenas me sentia atraido por mulheres maduras, a maior parte delas casada e já mãe. O seu corpo amolecido pela idade, marcado pela gravidez comovia-me.
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assim, eu tinha deixado de falar da Dama dos meus sonhos, a que cada uma destas passantes era uma alusão, mas que nenhuma substituía. Davam todas as provas dessa paciência própria de quem não espera mais nada da vida senão um remédio para a sensação de se ter sido abandonado por Deus. Eu era o antiodoto das suas mágoas, a panaceia que curava a falta de amor. Não tinham qualquer ilusão sobre o lugar que pretendia ocupar. Eu viera apenas tratar uma ferida, desapareceria antes que o mal se fosse. Com elas, conheci a somas das resignações que faz a equação de uma vida. A seu lado, soube quão fugazes são os momentos de plenitude, difícil a reconcialiação com esse estranho em que a vida nos transforma. Mas aprendi também a gozar felicidades efémeras, beijos roubados ao tempo que passa, carícias furtivas numa pele envelhecida, reconhecida por todas as doçuras, risos abafados sob os lençóis, palavras cúmplices e frases fulgurantes.