BREVE DICIONARIO DE VERÃO POR PEDRO ROLO DUARTE
Coisas lidas
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As coisas não são o que têm de ser, são o que delas quisermos fazer. Enquanto estamos vivos só nos resta acreditar que nos encontramos, que podemos transformar as nossas vidas, é que tudo depende só de nós e da nossa vontade. Descansamos vezes de mais no conformismo de um fatalismo perigoso e hoje apetece-me fechar a noite a pensar, que os que não morrem se encontram – isto é, que tudo está em aberto enquanto estamos vivos. Quem fecha portas e abre janelas, na nossa vida sou eu. Pode não ser verdade, mas hoje quero acreditar que é só esta a verdade que interessava.
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leio na imprensa que o festival das dunas de S. Jacinto se destina, pelo programa musical que apresenta, a um público mais velho, diante de outros festivais noutros tempos, e que quer eventualmente reviver essa juventude entretanto perdida. Parece que a primeira edição constituiu um êxito. Fico a pensar no conceito. Passaram vinte anos desde os tempos em que eu acharia vagamente graça á ideia de ir a um festival de música. Mas, se organizam um para a minha idade, pergunto: há copos de vidro. Há gelo em quantidade? Há «Jameson»? Os pregos são com bife de lombo? As cadeiras são cómodas? O pão das sanduíches é cozido em forno de lenha? As imperiais chegam ao copo a 6º de temperatura? Há limão na coca-cola? Têm ar condicionado nas tendas? E há chapéus-de-sol sem anúncios de cerveja? Um festival de música para a minha idade teria de ser assim, de preferência com relva e espreguiçadeiras....