Parte XV Conta corrente de Virgílio Ferreira
Coisas lidas (e postadas a três mãos)
É um lugar comum dizer-se que «não há amor como o primeiro». E toda a vida não é verdade. O amor constrói-se longamente e não há assim amor como o ultimo o que dura ou devia durar até á morte...Mas naturalmente o primeiro amor é o da juventude e toda juventude é bela como a melancolia do nunca mais. Também assim a mulher era jovem e a beleza que era sua pelo esplendor da juventude amplia-se ao impossível na distanciação da memória. Não que assim não haja amor como o primeiro por ele ter sido da nossa iniciação, Mas só porque nada pode ajudar o passado que morreu e a beleza do que é em si mesmo a perfeição. A mulher que recordamos no tempo da juventude tem a beleza de ela ser a juventude que foi dela e a nossa na sua. Mas sobretudo tem a intangibilidade do que se imobilizou no passado e aí no que para sempre é a nossa fascinação.
Não se constrói o mundo só com a parte minúscula do homem, que é com que os
pregadores do futuro julgam poder construí-lo. Há a outra parte, a interesseira, a comilona,
e é essa parte que vós acenais para a ilusão. A parte grossa, a parte animal em disputa,
a que dá facadas por causa de uma sardinha, a que dá tiros por causa de um olhar em
desafio, a que dá pontapés numa pedra só porque tropeçou nela, ainda que fique ele pontapeado, a que rosna por causa de um osso, a que de todos os horizontes possíveis só distingue o da gamela, a pesada e grossa, a gordurosa. Em nove décimos do homem o que pesa é o animal. E é com o décimo que resta que quereis reinventá-lo. Quereis?
Mas é da parte que negais nos outros que vos servis de engodo para a pregação. Meu Deus. Vergílio Ferreira, in 'Signo Sinal'
Postado oprincipal
só
não me toquem
pois minha pele arde.
envolvo-me em mim
num estado fetal
sem esperança
ou sorrisos vãos.
tudo ficou inerte,
até o tempo
onde vegeto
escrito por uma alma poética e amiga.: )