Jacinto Magalhães in nas aguas daquele luar
Coisas declamadas
Era um cair de tarde em que cores brincavam de avermelhar os céus.
Havia um ar de despedida nas coisas e um gosto amargo na boca
Acabava o tempo de recomeçar
(…)
De como te dizer tardes paradas
A ver o mar. De como te
Contar esta quietude que me
Sinto e que vem das coisas vivas
Envolver-me e criar-me um tempo de estar
De como te ter e deixar
(…)
Deixar sorrir os olhos e as mãos
Deixar que um tempo nos penetre e erga
Deixar que o rio corra e o mar encha
(…)
As aguas que vão correndo, nestas pontes, nestas ilhas
e que levam a tua imagem para as areias do mar.
E a têm e aguardam nas águas com que se encontram
(…)
Ainda o sabor dos anos que não deixei.
A visão sem nuvens e um tremer das
Vozes dos tempos que não cresci. O ribeiro que eu fora nesses dias
(…)
Vinhas ao meu encontro e os
Teus braços começavam a erguer-se
Era domingo em teus olhos
Trazias contigo o sol
(…)
As folhas começaram a cair e
Veio um cinzento de ausência
E solidão. O rio foi ficando menos nítido, distorcido pela chuva nas vidraças.
O sol foi ficando em tuas mãos
(….)
Sem ti é mais difícil
Os verdes são agora mais claros e o sol já não aquece
Sem ti os tempos são iguais.
(…)
Cresce em mim este vazio da ausência
Rodeia-me uma cortina espessa
Que inventaram para me isolar e esquecer
Rios e sois, rumores e pássaros
Que só existem no que me lembro de outros dias