02
Fev07
A VOLTA AO ESPELHO
AnnaTree
COISAS LIDAS....
Há profissões que já atingiram o nível de mitos: toda agente tem um primo que conhece um amigo que apanhou um táxi no aeroporto de Lisboa e acabou em Almeirim, assaltado, meio nu e sem malas (...) ou o clássico dos clássicos: quem não ouviu falar daquele funcionário da repartição de finanças que é capaz de maltratar o contribuinte torturando-o a preencher o formulário A-25 em harmonia com o B-1852 que deve ser comprado na tesouraria no andar de baixo em menos de quinze minutos e sem perder o lugar na fila para a caixa? Pois é.
(...)
Funcionários públicos, bancários, taxistas, professores, enfermeiros, lojistas e secretarias: o gamanço, a arrogância, o absentismo, a negligencia, o descuido, a mentira e a preguiça.
(...)
Porque esta gente está ali para nos servir, a nós, que para isso pagamos. Os que estão do outro lado, detrás do balcão não tem mais que fazer que nos satisfazer docilmente, com um sorriso nos lábios e até amanhã se Deus quiser.
Ouvindo sentenças populares até parece que Portugal está composto maioritariamente por pescadores, agricultores, mineiros, operários fabris e demais agentes dos sectores primário e secundário. Como se o terciário, que engloba ninharias como o comercio, os hotéis, os transportes, as telecomunicações, a educação e até o governo, fosse uma miragem longínqua e alheia a nós. Chega a ser cómico como um pais de prestadores de serviços, uma terra que consome a riqueza que outros recolhem da terra, um pais que quase esqueceu o significado da palavra manufacturar, se vire contra si próprio desta maneira. Porque tirando quatro intelectuais que nunca saem de casa e os vinte pastores em vias de extinção que habitam as serras pátrias, somos todos peças da classe terciária. Quase todos servimos alguém.
(...)
E a senhora, professora de liceu, quantas vezes teve vontade de mandar á merda os progenitores dessas adoráveis criancinhas que a torturam, eles que juram ante Deus e a bandeira que os filhos nunca fumaram um charro mesmo tendo sido apanhados dez vezes pela polícia?
Defina-os sem medo. Pois é: uns arrogantes, que pretendem que os professores exerçam de pai, mãe, Madre Teresa de Calcutá e de santa casa da misericórdia, se for caso disso; uns irresponsáveis e uns imaturos.
POR RITA BARATA SILVERIO LIDO A 4 FEVEREIRO 2005 DNA