A Malinche de Laura Esquivel II
Coisas Lidas
(...)
Depressa aprendeu que aquele que administra a informação, os significados, adquire poder, e descobriu que, ao traduzir, ela dominava a situação; e não só isso, descobriu que a palavra podia ser uma arma. A melhor das armas.
(...)
A palavra era um guerreiro, um guerreiro sagrado, um cavaleiro águia ou um simples mercenários. No caso de ter um carácter divino, a palavra transformava o espaço vazio da boca no centro da criação e repetia nela o mesmo acto com que o universo se originara ao unir o princípio feminino e o masculino num só
Malinali achava que, para a vida surgir, para que estes dois princípios se mantivessem unidos, devia instalar-se dentro de um espaço circular que os resguardasse, que os abrigasse, uma vez que, ao envolver o que fora criado, as formas redondas eram as que melhor o protegiam. As formas pontiagudas, pelo contrário, abrem, separam. A boca, como princípio feminino, como espaço vazio, como cavidade, era o melhor lugar para que as palavras se gerassem, e a língua, princípio masculino, pontiaguda, afiada, fálica, era a mais indicada para introduzir a palavra criada, esse universo de informação, noutros espíritos, para que aí fecundasse.