A Malinche de Laura Esquivel III
Coisas Lidas
O interesse que os espanhóis, e Cortês em particular, revelavam pelo ouro, não lhe parecia correcto. Se na verdade fossem deuses, preocupar – se-iam com a terra, com a sementeira, preocupar-se-iam em garantir o alimento dos homens e isso não acontecia. Em nenhuma ocasião os vira interessados nos milheirais, apenas em comer.
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Não o preocupava que os homens deixassem de semear o milho? Então? Não saberiam os homens, acaso, que se deixassem um dia de semear o milho, o milho morreria?
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Que não há possibilidade de o milho viver sem os homens nem os homens sem o milho?
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Não saberiam que nós somos a terra, que da terra nascemos, que a terra nos come e que, quando a terra chegar ao seu termo, quando se der o fim da terra, quando a terra se tiver cansado, quando o milho deixar de nascer, quando a mãe terra deixar de abrir o seu coração, será também o nosso fim? Nesse caso, de que serviria ter ouro acumulado sem milho? Como era possível que a primeira palavra que Cortês se interessou em aprender em náuatle fosse precisamente «ouro» em vez de «milho»?