Parte IV do grande e do pequeno amor ines pedrosa e jorge colombo lido marc2007
Coisas lidas e Vividas
Tinha os pés bem assentes na terra. Ás vezes ele dizia-lhe que ela corria o risco de ficar com os pés bem assentes na terra e criar raízes . Ela gostava do sossego das árvores; ele do movimento das casas. Ela interessava-se pela história das guerras, ele preferia olhar para o que sobrara da história e atravessava o quotidiano, inventariando destroços. Nas bibliotecas, refugiava-se dos bombardeamentos da existência. O estudo das guerras enchi-a de paz. Dedicava-se agora ao papel das mulheres na guerra dos cem anos. Perante a odisseia de Joana D’arc., ou a complexa diplomacia de Leonor de Aquitânia, a sua vida era um paraíso.
Esta guerra lenta que matara o feudalismo distraia-a da guerra sem fim que há anos travava a com ele. Por mais tratados de paz que se propusessem assinar, nunca conseguiam ficar juntos mais do que alguns meses. Acordavam uma manhã com escaramuças de fronteira que cresciam para batalhas campais até se transformarem em guerra aberta. Esgotadas as munições, entravam num período de guerra-fria, que durava até que um deles soçobrasse de tristeza e soltasse o grito da independência. Mas invariavelmente, passado um tempo, regressavam á terra queimada da paixão, jurando que desta vez é que era.
Mas nunca era. Nunca conseguiam encontrar um fuso horário que unisse os seus dois mundos. E faltava-lhes já a força para o terçar de armas ritual. Começavam a estar demasiado descrentes para lutar.