16
Nov07
Parte XIV do grande e do pequeno amor ines pedrosa e jorge colombo lido marc2007
AnnaTree
Coisas lidas e vividas
(…)
Durante o dia, a culpa tornava-se um jogo, uma teia de códigos secretos e de pequenos teatros. Entre mensagens fortuitas ele adestrava-se na arte da esquiva. Libertava-se de afagos em público, explicando á estagiaria que a exibição banalizava os afectos. No quarto, explicava-lhe que a repetição banalizava o sexo. E despedia com considerações sobre os espaços individuais. A jovem habituara-se á bíblia urbana cujo primeiro versículo reza que o pecado da banalidade conduz aos abismos infernais da exclusão social, e acatava, sem perceber porque o motivo o acatamento a conduzia ao descampado da tristeza.
(…)
A justiça é uma espécie de bóia de salvação mental em caso de naufrágio deliberado; saltamos para o mar com a pedra do coração ao pescoço, e dizemos que estamos a fazer o que é justo. Eles fizeram o que era justo:
Lançaram-se para dentro da vida um do outro com a funesta alegria de soldados esgotados pela ansiedade das tréguas. Sempre as guerras se sucederam e os tratados de paz foram entendidos como intervalos na interminável bélica da humanidade.
Já não podiam estar juntos como se acreditassem num destino de felicidade tranquila. Quem decretou que a paz é um ingrediente obrigatório da felicidade? Talvez eles preferissem ser infelizes um com o outro do que felizes com outras pessoas.
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Durante o dia, a culpa tornava-se um jogo, uma teia de códigos secretos e de pequenos teatros. Entre mensagens fortuitas ele adestrava-se na arte da esquiva. Libertava-se de afagos em público, explicando á estagiaria que a exibição banalizava os afectos. No quarto, explicava-lhe que a repetição banalizava o sexo. E despedia com considerações sobre os espaços individuais. A jovem habituara-se á bíblia urbana cujo primeiro versículo reza que o pecado da banalidade conduz aos abismos infernais da exclusão social, e acatava, sem perceber porque o motivo o acatamento a conduzia ao descampado da tristeza.
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A justiça é uma espécie de bóia de salvação mental em caso de naufrágio deliberado; saltamos para o mar com a pedra do coração ao pescoço, e dizemos que estamos a fazer o que é justo. Eles fizeram o que era justo:
Lançaram-se para dentro da vida um do outro com a funesta alegria de soldados esgotados pela ansiedade das tréguas. Sempre as guerras se sucederam e os tratados de paz foram entendidos como intervalos na interminável bélica da humanidade.
Já não podiam estar juntos como se acreditassem num destino de felicidade tranquila. Quem decretou que a paz é um ingrediente obrigatório da felicidade? Talvez eles preferissem ser infelizes um com o outro do que felizes com outras pessoas.