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Fev07
com ambas as maos
AnnaTree
Coisas lidas...
E lembro-me de Saint-Exupéry, que dizia que o único luxo verdadeiro é o das relações humanas.
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Também o pintor- julgo eu - não deseja gravar no seu quadro a paisagem, mas aquilo que nasceu nele ao ver a paisagem. Ou sucede-lhe dar forma de paisagem àquilo que descobriu dentro de si e não sabe manifestar de outro modo. O que ele quer é dizer-se a outros e ser entendido.
A paisagem é sempre mais fácil. Lida-se melhor com os sobreiros do que com os homens, com as coisas do que com as pessoas. No entanto, trazemos connosco a necessidade vital de comunicar, e só o podemos fazer com quem é semelhante a nós. Precisamos disso para nos localizarmos, para sabermos quem somos, para chegarmos a onde devemos chegar.
Podemos usar um objecto e deitá-lo fora quando já não nos convém, mas a relação verdadeira entre pessoas exige criar laços, mais ou menos profundos, e, depois, respeitá-los. Talvez uma das causas de o mundo estar tão triste seja que tentamos lidar com as pessoas como com as coisas. Talvez isto tenha contribuído para que andemos tão perdidos, tão sem saber onde estamos. Usando as pessoas e, depois, talvez desiludidos, desfazendo-nos delas, começámos por perder o calor e a luz da amizade - que praticamente desapareceu da face da terra.
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Podemos desiludir-nos com as coisas: fazemos uma apreciação acerca delas e usamos o caixote do lixo. As pessoas, porém, não são para julgar, mas para que ajudemos a construi-las, para que ajudem a construir-nos, para construirmos alguma coisa em conjunto. Se o teu amigo te desiludiu, acusa-te a ti mesmo, porque era tarefa tua torná-lo mais nobre. Se estás desiludido com a tua vida em família, lembra-te de que ela foi a tua construção. E recomeça no ponto em que começaste a falhar.
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Não devemos ter pena do que "perdemos" quando escolhemos, pois isso faz parte da natureza da liberdade. Cada vez que escolhemos algo, sacrificamos as outras possibilidades. No fundo, sermos livres quer dizer que temos alguma autonomia para escolhermos de que forma vamos renunciar a passar a vida fazendo tudo aquilo que nos apeteça.
É através do compromisso - uma opção sem retorno que em alguns casos existe sem que tenha ficado escrita num documento - que nos ligamos ao amigo, ao esposo ou à esposa, a uma tarefa em conjunto com outras pessoas... E ligando-nos aos outros localizamo-nos.
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Aceitarmos as consequências das nossas escolhas, carregarmos com o peso delas, honrarmos a nossa palavra, tem o nome de responsabilidade. E só ela confere realidade à liberdade. Só o homem responsável é autenticamente livre. O outro... joga; é ainda criança, imaturo, pouco homem.
Paulo Geraldo