QUADRAS SÃO JUÓN
Coisas lidas
Sobe, sobe, ribeirinho,
Depressa até o salgueiro
Pois neste mundo só valem
Os que chegarem primeiro.
Quero amor, dás-me amizade,
- que te importa a minha mágoa?-
tenho sede, dás-me pão,
tenho fome, dás-me água.
ausência é noite sem estrelas,
mas se estás para chegar,
é como se mil janelas
se abrissem de par em par.
Esta alegria que eu tinha
Anda tão longe, tão esquiva,
Que penso que vou morrer
De nada, só de estar viva.
A minha alma está de luto,
O tempo tudo levou.
Quando penso no que fui,
Tenho pena do que sou.
Quem não tem aos vinte anos
Um amor ou dois ou três?
Mas menina que se preza
Tem só um de cada vez
Corpo sem alma não pode,
Não consegue ser feliz,
Como a roseira não pode
Dar rosas sem ter raiz.
Cada vez fico mais triste
Ao ouvir a tua voz:
Se ainda sabes dizer eu
Já não sabes dizer nós.
Tão sincera me parece
Essa tua falsidade,
Que estou quase a acreditar
Que a mentira é que é a verdade
Jamais digas «nunca» e «Sempre»
«nunca» e «sempre» só Deus sabe:
nas nossas pequenas vidas
o infinito não cabe
não peças amor se amor
de quem te amava acabou.
Já viste alguém colher rosas
Na roseira que secou?
Amor que passa não volta,
E se volta não passou...
Amor que volta não passa,
E se passa não voltou.
Já nada quero da vida,
Nada quero deste mundo:
Sou como vela perdida
D'um barco que foi ao fundo.