Cafuné de Mário Zambujal
Coisas lidas
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Desceu ao jardim, no propósito de continuar a tarefa da véspera. Arrancou ervas, aplanou a relva, observou a nespereira e o diospireiro , a ver se entendia que Ramos cortar para a reclamada poda.
Nesse intuito se esforçava quando ouviu passos no varandim e para lá deitou o olhar esperançado. Com razão. Era Dália , radiosa e e fresca como o fim da madrugada, logo atirando um “bom dia” adoçado pelo sorriso.
Desceu a escada tão rápida como ele pediria se ousasse pedir e de novo apareceu com blusa larga e fina, decote mais amplo ainda do que do dia anterior. Estacara e Rodrigo pôde admirar como a brisa da manhã lhe empurrava a saia leve para o entrepernas, desenhando com nitidez as coxas magníficas.
Visão demasiado sugestiva para que se mantivesse calmo e indiferente. Quis não ver e dobrou-se a arrancar do relvado rebentos daninhos. Sacrifício inglórios. Dália puxou a saia acima dos joelhos e sentou-se, pertinho, pertinho. Outra vez a atração do decote revelador. Baixou a cabeça para não olhar o que tanto lhe chamavam os olhos. Moviam-se em silêncio e silêncio era sinal de que a intensidade dos sentidos impedia palavras desajustadas.