ENTREVISTA A HELENA SACADURA CABRAL POR ANABELA MOTA RIBEIRO DNA
COISAS LIDAS
HELENA SACADURA CABRAL HSC: (…) na minha vida, os meus pais pais fizeram-me, os meus avós acalentaram-me, o Nuno moldou-me e os meus filhos adoçam-me. Mesmo com luta, porque de vez em quando beliscamo-nos. (…) O que faço por gosto não é sacrifício. Gosto de prescindir de fazer coisas para ter prazer de entregar essa dádiva a outro. ANABELA MOTA RIBEIRO AMR: Está a dizer-me que contava os iogurtes? HSC: Contava! Para a empregada comer de garfo e faca, comia eu o pãozinho e café com leite! Tenho muito orgulho nisso. Não podia submeter a empregada que tinha a tratar-me dos filhos e que me permitia trabalhar a alimentar-se, não digo a bifes de primeira. Mas de comida como toda a gente. Não podia dizer ao Nuno: «Fazes o doutoramento», e depois pedir-lhe dinheiro. Tinha de gerir muito bem o dinheiro. AMR: Falou com o Nuno Portas sobre a ligação dos seus filhos à política? HSC: Ah, sim. Quando são coisas sérias (…) «Nuno, estou aflita com isto”, “Nuno, o que é que eu faço?». Se for preciso choro ao pé dele. Não posso desabafar com ninguém sobre os meus filhos senão com ele.(…) Ah, amar é a maior dádiva que posso dar. Como é que amaria um homem se o quisesse exclusivamente para mim? Amar significa que tenho que pagar um preço por esse amor. (…) A vida ensinou-me que ser infeliz não custa nada. Ser feliz é que custa brutalmente. AMR: A dor da sua vida é ter falhado no grande amor? HSC: não é ter falhado no grande amor da minha vida. É ter falhado no matrimónio. Isso é uma dor, sim. Tenho um grande orgulho em mim, sou rigorosamente aquilo que gostava de ser. Construi-me. Sou a prova que uma pessoa pode ser uma coisa e fazer-se outra. Eu seria a burguesa instalada, ganhando bem, casando com um homem que ganhasse melhor, deixando de trabalhar quando os meus filhos precisassem de mim. Vivi num meio que me preparou para isso e não estou a criticar. As minhas primas são assim e eu tenho boas conversas com elas. Não tenho nada de conservadora. Conservadora é uma mulher que casa, que fica casada, que fica dramaticamente a viver o seu divórcio. Eu amei, vivi a minha vida como quis viver, nunca fiz de virgem, casei virgem já não é mau. AMR: Tem orgulho por ter casado virgem? HSC: Não tenho o mínimo orgulho. Tenho um orgulho enorme numa coisa: por ter descoberto o amor, ter-me entregue ao homem que foi o pai dos meus filhos, de os primeiros gestos de amor terem sido aprendidos com ele. Não tive filhos de mais ninguém. É uma marca e tenho um enorme prazer nessa marca. Orgulho de ter casado virgem? Se me tivesse deitado com ele antes tinha aproveitado qualquer coisinha….(risos) (…) Não tenho vergonha dos sentimentos. Posso ter vergonha de expor a parte material desses sentimentos. Ou seja, não ando nua a amar uma pessoa pela rua. Falámos aqui de sentimentos e nunca, em momento algum, passámos disso. E ao acabar-se um casamento há motivos que levam ao fim desse casamento. (…) AMR: Estamos no mesmo quem é que manda. Nunca ninguém manda em si? HSC: Não! Nem o meu pai. A minha mãe tinha uma enorme influência em mim justamente porque nunca mandou. Pelo afecto muitas pessoas mandaram em mim. Ou seja, não mandaram, conduziram-me a fazer aquilo que gostaria que eu fizesse. Mandar no sentido: “fazes isto!» tinha graça! Há quem diga que hei-de ir para o caixão a ainda a dar as últimas instruções. (…) Sabe o que eu gostaria? Que os meus filhos nunca tivessem que alterar a sua vida por mim, que quando me procurassem fosse por gosto, por prazer.