Estilhaços de Júlio Machado Vaz
Coisas lidas
( sobre o pai )
(...) só na adolescência me apercebi da barreira que nos separava, amar alguém não chega, é preciso que os estilos de oferecer carinho sejam compatíveis, ou a ternura chora, de tão clandestina. Fomos esse tipo de casal, mas o silêncio, embora longo e pesado, era cúmplice, percebíamos o afeto do outro, Esperávamos apenas que desabrochasse à nossa moda.
(...)Creio hoje que para ambos foi penoso, mas nesse tempo sentia-me prato baixo da balança e acreditava sinceramente que ele ditava as regras do jogo, a minha timidez não permitia que entrevisse a sua.
(...) Amamo-nos assim, com punhos de renda e pinças. Como sempre acontece, o hábito acabou por nos invadir e a espera substituiu a chegada, nenhum de nós iniciou a viagem. Ficamos em terra. Ombro ombro sem abraços; naufrágio em doca seca .