José Jorge Letria Um casulo de vento
Coisas Lidas
Criança estonteada e precoce, eu atravessava
as ruas para saudar as sombras
que derramavam sobre a claridade dos muros
a mancha negra dos seus perfis,
A estatura esbracejante dos seus corpos.
Há-de ser pessoa de quem se fala , diziam.
Depois, no silêncio rumorejante das suas bocas
cúmplices e vorazes, teceram de mim uma imagem
gémea de que deixam os relâmpagos e os fogos
quando surpreendem um sono das casas.
Ensaiei no vinho e no tabaco
um crescimento que era só de músculos,
dos ossos e das vozes. No resto, mantive-me
desesperadamente do tamanho de uma pétala,
de um casulo de vento, uma moeda de orvalho.
A minha idade era de oiro, do dilúvio
e do sonho perfeito que restitui o homem
ao tempo ambíguo do colo da mãe, sossego da noite