OS CROMOS O MATADOR POR RITA FERRO
(…) Grande parte do sucesso do matador se deve não propriamente a uma panóplia de atributos, mas á segurança com que entra nas salas gingando o corpo, alisando a franja, agitando a gravata, cofiando o bigode, galando as mulheres. É ridículo, mas como é convencido e, logo, superior a chacota, não sofre tanto como deveria. Acha-se irresistível como homem e insuperável como amante, e é essa a convicção, mais do que qualquer outro atractivo, que as repta primeiro e as desgraças depois. (…) Tem o seu quê de misógino porque, uma vez embeiçadas não sabe o que fazer com elas a não ser torna-las completamente infelizes. (…) É o pior marido de todos, porque morre sem distinguir a legitima e passa a vida a trocar-lhe o nome. (…) Sexualmente, deixa a desejar. É tão cheio de si, tão especializado em desempenho e competência, que nunca lhe ocorreu que o sexo possa ser mais mental que mecânico. Um único objectivo o persegue: consumar. (…) Mas tem de haver algo mais serio nesta atracção fatal desencadeada por cromagnons que, como o nome indica, têm das mulheres uma visão lascada. (…) A nostalgia que ainda nos desperta um corpo que já caminha com a espinha direita, mas que ainda não aprendeu a utilizar o cérebro