Os últimos marinheiros de Filipa Melo
Coisas lidas
Paulo falara-me do seu avô materno. Foi um dos 75 sobreviventes do naufrágio do bacalhoeiro João Costa ao largo dos Açores, em setembro de 1952.
O navio regressava de uma campanha na Terra Nova quando um curto -circuito fez explodir a casa da máquina, paredes meias com o carregamento de 11 mil quintais de bacalhau. Distribuídos por 22 Dóris, em seguida divididos pelo comandante em dois grupos, guiados por duas bússolas, os tripulantes passaram quase uma semana perdidos no mar alto. Sem mantimentos, só puderam contar com a água da chuva, que caiu ao quarto dia. Para evitar o escrúpulo, chuparam utensílios de pesca em chumbo, para puxar a saliva. Pescaram tartaruga e devoraram - na crua. Mondego, o cão de bordo, esfaimado a deitar aos pescadores um olhar alucinado: especula-se que o afogaram, ou que o comeram, amanhado, escalado e repartido . Todos os tripulantes do João Costa, sem exceção, foram salvos por navios alemães e americanos, ao fim de seis dias e seis noites de deriva e pesadelo