PARIS , 1845, FRANCA POR ANTONIO RISCO 6/09/2003 DNA
COISAS LIDAS (…) Vinham vultos que a escuridão permitia com um devaneio, e a tirania das faces humanas tinha desaparecido. Dizia-o Baudelaire que já estava a viver endividado. E ia passando toda academia da França sem uniformes. Gerard de Nerval, Alexandre Dumas, Flaubert, Eugene Delacroix, Rimbaud. Tudo para o segundo piso alugado por Boissard, o pintor e músico. (…) Punham-se 3kg de haxixe numa panela com água suficiente para as folhas boiarem. Fervia-se bem e acrescenta-se 3 kg de manteiga, deixando-se em ebulição por 12 horas, e repondo a agua evaporada. A manteiga ia ganhando uma cor verdosa e ao esfriar viria boiar suculenta e resinosa, pronta para o Dawamesk que haveria de nascer de 500 g de açúcar e metade de mel mais umas 200 g de gordura anterior acompanhada de avelãs, amêndoas e pinhões, tudo ao fogão até se tornar em mescla homogénea. Era assim, com colheres de porcelana do Jajão provando sucessivas doses desta mistela que os Haschischins famosos, narinas dilatadas (…) abraçavam a alucinação. (…) E Baudelaire, com uma lucidez excepcional nele, ponderaria que «o haxixe não revela o homem mais do que ele é»