Pedro Rolo Duarte 6/3/2010
Coisas lidas
Fernando Tordo, que cantou ao lado do notável Helder Moutinho escreveu e cantou qualquer coisa como : “ adeus tristeza, até depois/sinto me triste por sentir que entre os dois /não há mais nada pra dizer para Conversar/chegou a hora de acabar”
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fui descobrindo com, com o passar dos anos, que tristeza muda com o tempo passa. Que a tristeza convoca paralisia numa idade infantil, quando não sabemos sequer conviver com aquele sentimento; depois puxa pela revolta, na adolescência, no tempo em que tudo se mede pela intensidade nada pela profundidade, e reagir é o verbo mais comum; por fim, a tristeza ganha os seus contornos e sentidos finais, mais calmos, mais pantanosos, porventura mais próximos de verdade. É quando aceitamos que estamos tristes. Que estar triste é em si um estádio - uma passagem, certamente, mas algo que se não vence por simples ato de revolta ou reação. A tristeza também é um direito que nos assiste - e há momentos em que dá um jeito do Caraças. Porque estar triste é respeitável. Porque estar triste é como passar por um mau momento e ele ser uma porta giratória, que rapidamente dá a volta, que isola o passado do futuro. Gosto de portas - mas gosto ainda mais da ideia de portas que cortam o fogo, que isolam, que separam. E nessas suas funções primordiais dão sentido à tristeza. Algo que vem mas não fica. Algo que se vive e se resolve. Uma doença com cura. Quando voltei a ouvir a canção "adeus, tristeza", pensei nessa ideia da tristeza personificada, a quem se diz "vai-te embora, não quero mais".